domingo, 8 de agosto de 2010

Frota de luxo cresce 660%


De 2005 a 2009, a venda de carros importados aumentou mais de sete vezes. E há quem compre sem financiar nem um centavo sequer

Diego Amorim - Correio Braziliense
Publicação: 08/08/2010 08:45

As garagens milionárias se multiplicam em Brasília. Entre 2005 e 2009, o número de carros importados emplacados na capital do país cresceu mais de sete vezes. O avanço de 660% supera o percentual nacional registrado no mesmo período, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). No Distrito Federal, nos primeiros seis meses deste ano, o desempenho do setor foi o melhor da história. Concessionárias e importadoras venderam 7.747 modelos estrangeiros, o que representa um salto de 28,5% na comparação com igual período do ano passado (veja quadro).

O mercado automobilístico de luxo contribuiu para essa arrancada. Lamborghinis não são mais raridade nas ruas da capital. Ferraris, já são entre 15 e 20 circulando pelo DF. Este mês, chegará a Brasília uma Ferrari 458 Italia, a terceira do Brasil. A encomenda custou R$ 1,7 milhão. Comprada pelo mesmo valor, desembarca em setembro uma Lamborghini de nome comprido: Gallardo LP570-4 Superleggera 2011.

A maior renda per capita do país ajuda a manter aquecido o mercado de luxo. Na única importadora independente de Brasília, o volume de vendas cresceu 150% desde 2006. A cada mês, são negociados de oito a 12 automóveis. Acompanhando o bom momento dos superesportivos, revendedoras da BMW, Mercedes e Audi comemoram recordes na capital brasileira.

Fila

Na concessionária da BMW, faltam carros no pátio para atender a demanda. Há pelo menos 40 pessoas na lista de espera. O número de veículos vendidos saltou de 170, em 2008, para 293, em 2009. Este ano, até julho, 250 unidades foram comercializadas, incluindo uma BMW 760, que custa R$ 600 mil. “Somos a terceira loja da marca que mais vende do Brasil. Perdemos apenas para São Paulo e Blumenau (SC)”, conta o gerente Vanderley Lumertz. O modelo mais barato da BMW é o 118, anunciado a R$ 92 mil.

Em julho, quando a Mercedes lançou o SL 63 AMG, o conversível mais caro da marca, a concessionária na Saída Sul de Brasília negociou a venda de três unidades, cada uma por US$ 440 mil (o equivalente a R$ 774 mil). Duas chegam até dezembro. E a terceira, em junho de 2011. O gerente de vendas Jucimar Antônio Pereira acredita que, este ano, não venderá menos do que 350 carros. Se confirmada a previsão, a loja — a quarta do país em faturamento — terá um crescimento de 483% em relação a 2005.

O sucesso de vendas se estende para os modelos da Dodge, Jeep e Chrysler — desta última, já foram vendidas quase 100 unidades este ano. Há mais de 20 clientes à espera da caminhonete Dodge Ram, que chega em outubro à loja da Mercedes em Brasília, custando R$ 150 mil. A maioria dos clientes que fecha negócio com Pereira paga à vista. Na semana passada, um empresário da construção civil levou cinco Mercedes para a família. O comprador não financiou um centavo do total da conta: R$ 585 mil.

Um outro empresário da cidade, de 50 anos, comprou recentemente o segundo Mercedes, um conversível do modelo SLK 200, que custou R$ 220 mil. O novo carro fará companhia a um Classe D 180, no valor de R$ 108 mil. Sem querer ser identificado, ele lembra que sustentar os carros de luxo custa muito. A lavagem, por exemplo, feita toda semana, pode chegar a R$ 60.

Manutenção
O preço do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), pago anualmente, equivale a 3% do valor do carro. A revisão de veículos importados é, claro, bem mais cara. A de
um Porsche que rodou 10 mil quilômetros, por exemplo,
não sai por menos do que R$ 3 mil.

Palavra de especialista
Benefícios simbólicos


“Se todos os carros oferecessem somente benefícios utilitários, todas as pessoas teriam praticamente o mesmo modelo. Como os automóveis possuem benefícios simbólicos, alguns fazem questão de pagar mais caro. Em geral, quem compra um carro importado procura status, sustentado pelo meio social. Do que adiantaria ter um carro de luxo em uma ilha deserta? Além disso, a cultura do carro no Brasil privilegia as marcas estrangeiras. Quando a pessoa tem dinheiro sobrando, é maior a chance de ela levar para casa um carro importado”.

Rafael Porto, professor e pesquisador do programa de pós-graduação em administração da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em comportamento do consumidor


Donos são executivos

Ao volante dos carrões que desfilam pela capital do país estão quase sempre empresários ou seus filhos. Atuam, principalmente, em construtoras, no mercado imobiliário ou em empresas de informática. Há ainda administradores de shoppings, donos de escritórios de advocacia badalados, de lojas de materiais de construção, restaurantes sofisticados, hospitais ou concessionárias, além de fazendeiros do Entorno. Servidores públicos, funcionários de embaixadas e políticos — dizem os vendedores — representam uma fatia pequena dos compradores de veículos de luxo.

Os carros importados costumam ser usados pelos executivos para ir a reuniões ou a refeições de negócios e mesmo para levar e buscar parceiros no aeroporto. Durante a semana, também podem ser avistados na porta de escolas particulares. Grande parte dos donos dos veículos, no entanto, só os tiram da garagem aos fins de semana, de preferência ensolarados, ou em ocasiões especiais, como festas de casamento e jantares com amigos. No fim de tarde de sábados e domingos, as máquinas geralmente ocupam os estacionamentos de lugares como o Pontão do Lago Sul.

A maioria desses clientes vive no Lago Sul, o pedaço mais nobre do Distrito Federal. Moradores das duas Asas, do Lago Norte, Sudoeste, de Águas Claras e Taguatinga também conduzem os possantes. O público masculino responde por cerca de 80% das vendas — percentual cada vez menor, segundo Márcio Valdivino, vendedor da única importadora independente do DF. “Não são poucas as mulheres que entendem de carro. E as que não entendem tanto têm confiado na gente e no serviço pós-venda (manutenção, assistência e reparações)”, comenta. (DA)

 - ()

Nenhum comentário:

Postar um comentário