sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O que aconteceu com a indústria automotiva?

16/09/2016  - Valor Econômico

Vicente Assis, B. Hagemann e Bernardo Ferreira

A indústria automobilística brasileira sempre foi um grande trunfo da economia nacional. Tanto a venda de automóveis leves como a de caminhões foram a quarta maior do mundo em 2013. Mas esse cenário já faz parte do passado. Comparando as vendas de 2013 com a expectativa de vendas para 2016, deve ocorrer uma queda de 45% em automóveis leves e de 67% em caminhões. O que parecia ser uma história de sucesso vive, hoje, um período de derrocada.

A economia foi um fator importante para a crise atual, uma vez que o PIB deve encolher mais de 3% pelo segundo ano consecutivo. O volume de financiamento de veículos vem se contraindo, enquanto o custo do financiamento aumentou em linha com a taxa básica de juros, que subiu de 8 a 10% em 2013 para mais de 14% em 2016. Além disso, a taxa de desemprego disparou de 7% para mais de 11% nesse mesmo período.

Após o mercado automotivo crescer ininterruptamente nas décadas de 1960 e 1970, a primeira crise ocorreu em 1982 e 1983, quando caiu 46% do seu pico e ficou estagnado por 10 anos. A segunda crise foi entre 2000 e 2001, com uma queda de 35% do mercado e subsequente estagnação de 3 anos. Após um novo período de 10 anos de crescimento, estamos na terceira crise, que já dura 4 anos e cuja retração esperada é de 45%. Apesar de uma provável melhora nos próximos dois anos, a indústria precisará de uma nova década de crescimento da economia para voltar aos patamares de vendas que vimos em 2013.

Soma-se a isso a atração de investimentos com base em premissas que não se concretizaram nos últimos anos: expectativa de que a economia era sólida, que o mercado local iria crescer indefinidamente e que o país comportaria uma indústria de 5 milhões de carros por ano. Com incentivos governamentais, a consequência foi a intensa instalação de fábricas de automóveis no Brasil nos últimos anos: saltou de 53 em 2011, para 65 em 2015.

A capacidade instalada é tão superior à demanda (a utilização da capacidade em 2016 será abaixo de 50%) que seria necessário um inimaginável crescimento do mercado de 10% ao ano nos próximos cinco anos a fim de voltarmos a utilizar 80% da capacidade total.

A maneira como o mercado automotivo cresceu no Brasil criou distorções que hoje atrapalham a recuperação. O foco excessivo em venda de carros de entrada, com menos tecnologia, para o mercado interno mascarou deficiências que a indústria automobilística acumulou durante as últimas décadas. Essas deficiências apareceram com força agora, quando o país passa por uma das piores crises de sua história: a produção de automóveis no Brasil não é competitiva no contexto internacional.

As montadoras, por exemplo, preferem exportar carros para os outros países da América do Sul a partir de outras regiões produtoras, como Ásia, México ou até mesmo da Europa. O Peru, nosso vizinho, importou 70% da Ásia e apenas 2% do Brasil em 2014.

A razão mais importante para a falta de exportação do Brasil é o custo elevado de se produzir um carro no país. O custo de produção do mesmo carro é 7 a 10% maior no Brasil do que nos Estados Unidos - que é mais caro que na Ásia. Para reverter este cenário, precisamos significativamente reduzir os custos dos veículos produzidos no Brasil.

No Brasil ainda não há a cultura de formação de polos industriais de excelência. A indústria fornecedora de autopeças local está focada principalmente em produtos com baixo valor agregado: vivem apertados entre os preços de matérias-primas, produtividade baixa e custos cada vez maiores. Como consequência, a saúde deste setor é baixa, tornando-se um problema para a indústria inteira: a crise aguda força diversos fornecedores a fecharem suas portas, deixando seus clientes sem uma fonte local de fornecimento.

Apenas algumas montadoras entenderam esse problema e construíram uma base de fornecedores saudável que suporta preços baixos através de custos baixos - outras montadoras trabalharam focadas apenas no curto prazo por meio de pressão constante para preços baixos até o ponto em que os fornecedores não têm mais capacidade de continuar seus negócios.

Precisamos, também, urgentemente aumentar a produtividade da indústria automobilística brasileira, uma das mais baixas em nível mundial. Um operário no Brasil produz em média 33 veículos por ano, enquanto os chineses produzem 54 e os americanos atingem 55 carros. Para termos ideia da defasagem da produtividade nacional, nos últimos 20 anos a China, em todas as indústrias, aumentou sua produtividade em mais de 8% ao ano, enquanto o Brasil melhorou míseros 1,2%.

O aumento da produtividade é a chave para aumentar a competitividade nacional e internacional. Falta ainda um sistema de educação eficiente, dedicado à profissionalização de cargos técnicos. Muitas empresas até criaram suas próprias soluções, mas isso só funciona para as grandes companhias.

Outro entrave é a alta taxa de imposto no valor final do veículo: 30% dos preços de venda do carro estão direta ou indiretamente atrelados aos impostos. Nos Estados Unidos, o peso do imposto no valor final do carro corresponde a 6% e na Alemanha, a 19%.

Players da indústria automotiva nacional e governo precisam aceitar que os tempos mudaram e, em comparação com o passado, o mercado não irá retornar para alto índice de utilização nos próximos anos. Se a indústria não repensar completamente seu modelo de negócio no país, o Brasil seguirá com grandes dificuldades em transformar esse setor em plataforma de exportação e estimular a demanda doméstica.

Hoje o setor automotivo é responsável por 5% do PIB nacional, sendo sem dúvida a mais importante indústria de alto valor agregado. Pode ser tarde demais para criar fortes montadoras brasileiras, mas definitivamente não é tarde demais para posicionar o Brasil novamente como um dos centros principais da indústria automotiva global.

Vicente Assis é presidente da McKinsey no Brasil.

Bjorn Hagemann é sócio da McKinsey.

Bernardo Ferreira é expert de indústrias avançadas da McKinsey.

domingo, 26 de junho de 2016

Com brecha na lei, serviço de mototáxi estreia em SP; prefeitura é contra

25/06/2016  - Folha de SP

A partir da próxima sexta-feira (30), o morador de São Paulo que quiser percorrer a cidade sob duas rodas terá à disposição um sistema de transporte de passageiros em motos por meio de um aplicativo semelhante ao Uber.

A iniciativa é da empresa pernambucana T81, que atua desde março na Grande Recife, no Rio de Janeiro e em Joinville (SC). Cerca de 2.000 motociclistas, segundo eles, já foram cadastrados pela empresa para prestar o serviço na capital paulista.

Mesmo antes de iniciar as operações, a iniciativa já causa polêmica, já que o transporte de passageiros em motos, como os mototáxis, não é regulamentado em São Paulo. A prefeitura diz ser contrária à adoção do serviço. A empresa, contudo, deve aproveitar a brecha legal para iniciar a operação na cidade e promete buscar a Justiça, se necessário, para ter o direito de prestar o serviço.

Segundo o presidente da T81, Josival de Melo Júnior, a ideia agora é levar o serviço, que já tem forte adesão em cidades médias do Nordeste, para os grandes centros do país. "É um tipo de serviço que sempre vai ter demanda. Às vezes, a pessoa está atrasada para um compromisso ou vai perder um voo, chama a moto que vai chegar na hora."

O Uber já testa o modelo em cidades como Bangkok, na Tailândia, mas ainda não pensa em adotá-lo no Brasil.

Além do serviço em motos, T81 também vai disponibilizar a tradicional a opção de transporte de passageiros em carros e o mercadorias. E promete diferenciais em relação ao concorrente Uber, como o pagamento das corridas com dinheiro e tarifas fixas.

ACIDENTES

Para associarem-se ao aplicativo, os motociclistas terão que se adequar a uma série de regras. Eles terão controle de velocidade por GPS e não poderão ultrapassar 60 km/h. Também terão que disponibilizar touca higiênica descartável que o passageiro usará por baixo do capacete.

Especialistas, contudo, alertam que adoção das motos para o transporte de passageiros pode ter impacto na segurança do trânsito.

Segundo Luiz Célio Bottura, engenheiro e consultor em transporte, o risco para o passageiro transportado numa moto é muito maior do que em um carro. "O índice de acidentes, comparando o número relativo, é muito mais alto", diz.

A T81 afirma que, por atuar como um facilitador de contato entre o passageiro e o motorista, não tem responsabilidade civil no caso de acidentes com passageiros. Mas diz exigir que os motoristas estejam em dia com o seguro DPVAT, que cobre acidentes de trânsito, não tenham antecedentes criminais e estejam regulares junto ao Detran.

"O risco existe como em qualquer atividade, mas garanto que nossos motoristas são capacitados", afirma o presidente da T81.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz ser contrária à adoção do serviço por causa "dos riscos que esse tipo de transporte acarretaria aos cidadãos numa cidade com as características de São Paulo".

A atividade de mototaxista é reconhecida desde 2009 por lei federal. A regulamentação da lei, contudo, cabe aos municípios. São Paulo é uma das cidades onde a lei não foi regulamentada, criando um "vazio legal" sobre o assunto. No Recife, por exemplo, o serviço está proibido –por isso a T81 roda apenas nas cidades do entorno.

Para iniciar a operação com motos nas capitais onde atua, a T81 argumenta que o serviço que oferece é particular e, por isso, não deve ser enquadrado nas regras que regem o transporte público, seja ele por carros ou motos.

O presidente do sindicato dos taxistas de São Paulo, Natalício Bezerra, critica a adoção da nova modalidade e diz que a chegada da empresa vai prejudicar os 40 mil taxistas que atuam em São Paulo.

"Se não há uma lei que proíba [o transporte de passageiros em motos], é hora de criar e aprovar na Câmara Municipal. Moto não é lugar de transportar passageiro." 

domingo, 29 de maio de 2016

Sob pressão, Haddad libera táxi de luxo a pegar passageiros na rua

28/05/2016  - Folha de SP

Após reclamações de taxistas, a gestão Fernando Haddad (PT) decidiu liberar os chamados táxis pretos -mais luxuosos e que só poderiam atuar via aplicativos- a também pegar passageiros nas ruas da capital.

Para isso, os motoristas terão que instalar taxímetros e poderão colocar luminosos, algo também não previsto.

Com tarifa cerca de 25% mais cara do que os convencionais, os táxis pretos poderão ainda praticar a tarifa mais barata, igual à dos taxistas do modelo branco, cujos carros são mais simples.

Os motoristas de táxi preto foram os que mais reclamaram da recente legalização do Uber, com o argumento de que desembolsaram R$ 60 mil no alvará e investiram cerca de R$ 80 mil para comprar modelos de carro exigidos.

Muitos deles procuraram a Secretaria Municipal de Transportes para dizer que estavam endividados.

COMPETIÇÃO

O táxi preto foi criado no ano passado justamente para concorrer com o Uber Black -modelo mais luxuoso e mais caro do aplicativo que conecta motoristas particulares a passageiros.

Quando o novo modelo foi criado por Haddad, o Uber funcionava por meio de liminar na Justiça e sem regulamentação municipal.

A revolta dos taxistas é motivada pelo fato de os motoristas do Uber não terem sido obrigados a pagar uma licença para atuar, por exemplo, numa espécie de concorrência desleal, segundo eles.

De acordo com o secretário Jilmar Tatto (Transportes), a maior parte dos cerca de 1.700 profissionais que atuam com táxi preto eram motoristas que alugavam irregularmente seus alvarás e viram a chance da própria licença.

"Por isso, muitos tiveram dificuldades [financeiras] para entrar no mercado", disse.

A prefeitura sorteou 5.000 alvarás, mas nem todos conseguiram entrar no negócio por falta de dinheiro.

A administração acredita que, com a liberação para pegar passageiros nas ruas, os taxistas não ficarão parados à espera de chamadas.

Para evitar isso, aplicativos de táxi passaram a acionar os modelos pretos mesmo para quem pedia os brancos. Mesmo assim, segundo taxistas, a desvantagem continua.

No último dia 14, o prefeito autorizou funcionários da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico a acionar os táxis pretos.

O serviço funcionará por período experimental de três meses, só para esta secretaria. Porém, o mesmo decreto diz que o modelo poderá ser ampliado para os demais órgãos da prefeitura, caso a experiência dê certo e gere economia. 

sábado, 21 de maio de 2016

Uber inicia testes de rua com carro autônomo

20/05/2016  - O Globo

RIO — Se os taxistas sentiram a concorrência dos motoristas do Uber, devem se preocupar ainda mais com um anúncio feito nesta quinta-feira. A companhia iniciou os seus primeiros testes de rua com carros autônomos, na cidade de Pittsburgh, na Pensilvânia. A tendência é que no futuro próximo, imensas frotas desses veículos ofereçam uma nova modalidade de transporte público individual, mais eficiente e seguro que os táxis atuais.

O carro sendo testado é um Ford Fusion híbrido, equipado com sensores que incluem radares, scanners a laser e câmeras de alta resolução. Ao circular pelas ruas de Pittsburg, o veículo testa suas capacidades autônomas e coleta dados para mapeamento da cidade. Os testes são conduzidos com um motorista profissional preparado para assumir o controle em caso de emergência.

“Carros autônomos têm o potencial de salvar milhões de vidas e melhorar a qualidade de vida de pessoas em todo o mundo. 1,3 milhão de pessoas morrem todos os anos em acidentes automobilísticos, sendo que 94% dos casos envolvem erro humano”, diz a companhia, em comunicado. “No futuro, nós acreditamos que esta tecnologia vai significar menos congestionamentos, transporte mais acessível e muito menos vidas perdidas”.

Os testes são conduzidos com o apoio da prefeitura local. O objetivo é garantir que a tecnologia está pronta para aumentar a segurança de todos no trânsito: pedestres, ciclistas e outros motoristas.

O anúncio acontece um dia depois de um fotógrafo ter flagrado um Chevy Bolt autônomo circulando nas ruas de São Francisco, na Califórnia. A GM, fabricante do veículo, fechou parceria recentemente com o Lyft, concorrente do Uber, para a criação de uma frota autônoma.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Cavalos deixam de puxar as charretes de Paquetá

19/05/2016  - O Globo

Os cavalos que puxam as tradicionais charretes de Paquetá vão sair de circulação hoje e, no sábado, a prefeitura promete entregar os carros elétricos aos profissionais que usavam os animais para o transporte público de passageiros na ilha. A troca promete render polêmica no bucólico bairro, onde há grupos contra e a favor da mudança, que foi negociada durante dois anos entre os charreteiros e a Comissão de Proteção aos Direitos dos Animais da OAB-RJ.

Até a tarde de ontem, alguns moradores ainda tentavam impedir o início da circulação de carros elétricos. Em reunião na prefeitura, eles disseram que podem fazer protestos e até tentar impedir o desembarque dos novos equipamentos. A ilha receberá 17 veículos, comprados por cerca de R$ 1 milhão da empresa Davanti. Quem é contra a medida alega que ela vai descaracterizar o uso do espaço público do bairro, onde é proibida a circulação de veículos automotores.

Além da OAB-RJ, no bairro há um grupo favorável à troca. Ele alega que os animais são maltratados pelos charreteiros e, mesmo em condições ideais de abrigo, alimentação e atendimento veterinário, o uso dos cavalos como força motriz é danoso.

O advogado da Associação de Charreteiros de Paquetá, José Carlos Ribeiro, admite que não há como garantir a acomodação adequada dos cavalos.

Assim como em Paquetá, em Petrópolis também há um movimento pelo fim das charretes, lá conhecidas como Vitórias. Na semana passada, um cavalo caiu e ficou preso ao veículo pelo pescoço.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Rio terá pelo menos 100 carros elétricos para aluguel; licitação sai amanhã


29/04/2016  - O Globo

A Prefeitura do Rio publicou hoje, no Diário Oficial, o aviso de licitação do sistema de aluguel de carros elétricos. Amanhã, sai o edital. 

Funcionará assim: a empresa que ganhar a licitação terá de colocar à disposição no mínimo 100 carros para serem alugados, que poderão ser carregados em 50 estações, no Centro e na Zona Sul, em locais como a Praça Mauá, o campus da UFRJ na Praia Vermelha e a Av. Bartolomeu Mitre, em Ipanema.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Taxistas de Campinas dizem que perderam 80% dos clientes em 3 meses por causa do UBER


25/04/2016  - Paulínia News

Após quase três meses de operação em Campinas, o Uber tem provocado polêmicas na cidade. Registro de brigas entre taxistas e motoristas parceiros do aplicativo e manifestações contra o serviço de transporte têm sido frequentes na cidade.

Assim como em outros lugares do país, o motivo da resistência ao Uber é a redução no número de usuários de táxi. Segundo o presidente do Sindicato dos Taxistas de Campinas, Jorge Pansani, houve uma queda expressiva na quantidade de corridas.

“O impacto [da chegada do Uber] está sendo desastroso. À noite o movimento caiu 80%, pois há mais 400 ubers atuando no período”, diz.

Para o sindicalista, o serviço só trouxe problemas para a cidade. “É um perigo para a população. Quem é esse motorista? Ele tem um atestado de antecedentes? Não. Eles não têm taxímetro, não fazem vistoria e nem passam pelo Ipem (Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo) ”, diz.

A assessoria rebate as declarações de Pansani. “Antes de aprovar um motorista como parceiro da Uber, é feita uma checagem de antecedentes nas esferas federal e estadual para verificar a idoneidade do candidato. Ele precisa ser um motorista profissional, ou seja, deve possuir carteira de motorista com licença para exercer atividade remunerada. Todos os documentos dos carros também são checados. É necessário apresentar a Certidão de Registro e Licenciamento do Veículo, Bilhete de DPVAT do ano corrente e apólice de seguro com cobertura APP (Acidentes Pessoais a Passageiros) a partir de R$50 mil por passageiro".

Em fevereiro deste ano, a Câmara Municipal formou uma comissão especial para discutir a situação do serviço na cidade e, de acordo com o presidente do colegiado e vereador, Tico Costa, os trabalhos estão adiantados.

“A discussão na comissão se encerrou. O relatório, que vai sugerir a regulamentação do Uber na cidade, está sendo elaborado e será enviado ao executivo. Acredito que em pouco mais de uma semana o relatório seja apresentado”, afirma.

De acordo com o vereador, a solução encontrada pela comissão é algo semelhante ao que vem sendo proposto em São Paulo, onde a Prefeitura propôs que o Uber compre quilometragens da administração municipal para poder atuar.

“A gente pegou algumas coisas de lá (São Paulo) e tem outras coisas que utilizamos de projetos que estão em tramitação no Senado”, diz.

O sindicato dos taxistas é contrário à regulamentação. “Somos contra porque, em primeiro lugar, o Uber não aceita regulamentação nenhuma. Em São Paulo, eles colocaram cinco mil licenças à disposição deles e a empresa não pegou. Eles não aceitam regulamentação de poder público nenhum.  A solução é que eles participem de uma licitação pública para ter um táxi”, diz Pansani.

Consultado sobre a declarações do sindicalista, a assessoria de imprensa do Uber diz que a empresa sempre se mostrou disposta a regularizar o serviço no país.

“Desde que chegou ao Brasil, a Uber mantém diálogo aberto e constante com o Poder Público das cidades nas quais opera, para que elas criem uma regulação moderna e positiva para serviços como os oferecidos pela empresa. As cinco mil vagas criadas pela Prefeitura de São Paulo foram exclusivamente destinadas para o que é chamado de "Táxi Preto" (serviço de transporte individual público), o que não deve ser confundido com o serviço de transporte individual privado de passageiros”, diz a assessoria.

Fiscalização

Como o serviço é considerado clandestino, a Empresa de Desenvolvimento Muncipal de Campinas (Emdec), responsável pelo trânsito na cidade, tem feito apreensões de carros a serviço do Uber. De acordo com a entidade, desde janeiro foram feitas 23 apreensões e 40 denúncias foam recebidas sobre o serviço. Além de ter o carro apreendido, o motorista que é flagrado a serviço do Uber tem que pagar uma multa de R$ 3,1 mil.

No entanto, Pansani diz que o problema é que o orgão não faz fiscalização durante a noite, período no qual há um maior uso do aplicativo.

“Nós conseguimos uma liminar e entregamos para a Emdec para que faça fiscalização. Transporte privado não é pra fazer serviço remunerado. A categoria está revoltada com o poder público, porque à noite não tem fiscalização”.

Em nota, a Emdec diz que planeja e coordena o trabalho dos agentes da mobilidade urbana de forma que seja realizada uma fiscalização com a máxima eficácia. No entanto, não comentou nada sobre as fiscalizações noturnas no comunicado.

Agressões

Quanto aos incidentes envolvendo brigas entre taxista e Uber, Pansani nega que haja um comportamento agressivo dos taxistas.

“Os taxistas não estão praticando agressão. Quem tá praticando a agressão são os motoristas do Uber. Ninguém tem sangue de barata. Eles nos provocam, fazendo gestos obscenos e rindo da nossa cara no trânsito”, reclama.

A assessoria do Uber nega tal comportamento por parte dos seus parceiros e diz que orienta para que eles não entrem em conflitos.

"A Uber considera totalmente inaceitável o uso de violência. Todo cidadão tem o direito de escolher como quer se mover pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente. Em todas as nossas comunicações com motoristas parceiros, reiteramos repetidas vezes para que não se envolvam em brigas e discussões e que contatem imediatamente as autoridades policiais, sempre que se sentirem ameaçados”.

Mudança de estratégia

Após alguns protestos contra o aplicativo, o presidente do sindicato diz que tem desestimulado a categoria a fazer manifestações. Um ato marcado para o dia 13 de abril no Centro de Campinas foi esvaziado, pois, de acordo com Pansani, ele orientou os motoristas a não participarem do evento.

“O sindicato não participou dessa manifestação. Eu conversei com o pessoal para não participarem dessa manifestação, porque essa manifestação ia colocar a população contra os taxistas. Em respeito à população de Campinas, pois não está adiantando fazer manifestação. O poder público tem a lei que foi aprovada pelos vereadores, sancionada pelo prefeito. Eles têm que fazer com que seja cumprida”.

Ganhos

Parceiro do Uber há dois meses, Jorge Telles se diz muito satisfeito com o novo trabalho. “Eu estou amando, estou achando sensacional, maravilhoso. Uma oportunidade de ganhar dinheiro".

Ex-vendedor, Telles estava há oito meses desempregado. Segundo ele, tem conseguido uma renda similiar a do seu antigo trabalho. “De 100% que você ganha, 25% é do Uber e 75% do motorista parceiro. Trabalhando de segunda a sábado, dez horas por dia, eu consigo tirar uns R$ 6 mil, sendo que R$ 1,5 mil eu gasto com gasolina, manutenção do veículo e pedágio, mas ainda consigo levar para casa uns R$ 4,5 mil”.

Já o auxiliar de táxi Francilei Rodrigues tem uma realidade diferente. Com a chegada do Uber, ele viu seu rendimento cair drasticamente. “Eu tinha uma média de fazer de 12 a 16 [corridas] por dia. Com a crise, caiu para nove e dez corridas. Com Uber eu faço seis corridas o dia todo. Caiu uns 60%. Tenho tirado uns R$ 1,2 mil por mês”, conta.

Para Rodrigues, a regulamentação o serviço é a única saída. “O que deve ter é uma fiscalização e um preço compatível para os dois trabalharem juntos. Ficou uma concorrência muito desigual”, reclama.

Usuário

O estudante de engenharia da Unicamp Bruno Queiroz, de 19 anos, é um dos usuários do Uber na cidade. Morador do distrito de Barão Geraldo, o jovem tem feito economia ao utilizar o serviço.

“Desde que chegou [o Uber] em Campinas, costumo usar sempre, porque é bem mais barato que o táxi”. Ainda segundo o estudante, o serviço tem facilitado a realização de tarefas que necessitam de deslocamentos pela cidade.

"Eu e meus amigos de faculdade pegamos [o Uber] muito para sair, principalmente quando sabemos que vamos consumir bebida alcoólica. Também usamos para ir no supermercado e para voltar da rodoviária”, explica.

Susto

Satisfeito com o serviço prestado pelo aplicativo, Bruno diz que a única vez em que teve problemas com o Uber foi quando taxistas assediaram ele e amigos por usar o transporte no bairro do Cambuí.

"A gente tinha saído de um bar. Como tínhamos ido de Uber, resolvemos voltar tarmbém. Como o lugar já tinha fechado as portas, a gente estava esperando na calçada. Nisso, quatro taxistas perceberam que a gente estava utilizando o aplicativo. Um deles se aproximou e perguntou pra gente se [nós] estávamos esperando o Uber. Por receio, eu disse que não. Na hora, já liguei alertando o rapaz do Uber. Então, ele pediu para que nós mudássemos de quarteirão, mas os taxistas seguiram a gente. Após entrarmos no Uber, um deles bloqueou nosso carro. O motorista desviou, mas os outros taxistas vieram atrás, cercando pelo lado e pela frente, avançando e acelerando de forma bruta. Foi igual perseguição de filme".

O ataque dos taxistas ao carro do Uber só terminou quando houve a intervenção da polícia, conta o estudante. Assustado com o episódio, Bruno diz que a atitude dos taxistas foi imprudente."Eles poderiam ter causado um acidente, pois colocaram a vida deles, dos meus amigos, do motorista do Uber e a minha em risco".