terça-feira, 10 de agosto de 2010

Achar Táxi Amigão é cada vez mais difícil






Dos 37 pontos visitados pela reportagem, 24 estavam vazios ou serviam de estacionamento; 234 motoristas já deixaram o programa

10 de agosto de 2010 | 0h 00 - O Estado de SP

Os carros do Programa Táxi Amigão estão sumindo das ruas paulistanas oito meses após a Prefeitura lançar o projeto. Entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado passado, a reportagem visitou os 37 pontos do serviço no centro e em bairros nobres da cidade. Vinte e quatro deles estavam vazios ou serviam de estacionamento para veículos comuns. Outros três, em Moema, no Itaim-Bibi e na Vila Madalena, deixaram de existir.
O Amigão começou a valer em 4 de dezembro de 2009 e tem o objetivo de incentivar motoristas a não dirigirem embriagados. Ele prevê a redução de 30% na tarifa das corridas nas noites de sexta-feira, sábado e véspera de feriados. Para verificar o funcionamento dos pontos, a reportagem entrevistou trabalhadores de estabelecimentos comerciais próximos a eles e permaneceu pelo menos 10 minutos em cada endereço.
"Só para um taxista aqui. Ele fica meia hora e vai embora", disse o manobrista Jhonattan Augusto de Oliveira, de 18 anos. Ele se referia ao ponto no início da Alameda dos Pamaris, em Moema, zona sul. O quadro era semelhante na Rua Canário. "Nunca vi esse Táxi Amigão", disse o atendente Gilson dos Reis Santos, de 35 anos.
Na Rua Doutor Virgílio de Carvalho Pinto, em Pinheiros, zona oeste, as vagas do ponto eram preenchidas por um Golf preto e uma caçamba. O problema se repetia na Rua Vupabussu. "Nunca tem (Táxi Amigão). A maioria dos clientes pede táxi e tenho de ir até a Av. Pedroso de Morais para chamar ", reclama Almenes Santana, de 29 anos, porteiro do restaurante Le Petit Trou.
No Itaim-Bibi, zona sul, o que deveria ser um ponto de Táxi Amigão na Rua Joaquim Floriano, 123, virou estacionamento de carros particulares. A placa foi roubada há duas semanas, segundo um guardador de carros. "É um ponto inútil. Nunca para táxi aqui. Como não tem fiscalização, alguns motoristas estacionam", disse o rapaz, que não quis se identificar.
Perto dali, na Rua Manuel Guedes, o ponto era utilizado por um taxista que não aderiu ao programa. "Não tem posto de gasolina amigão, mecânico amigão, pneu amigão. O cara vai para o bar, paga R$ 7 numa lata de cerveja e quer economizar com táxi?", reclamou o motorista, sem se identificar.
Nos pontos, era comum flagrar táxis sem a identificação do Amigão: o luminoso verde e os adesivos fixados no para-brisa e no vidro traseiro. A maioria dos motoristas alegou ter esquecido de ambos.
A Secretaria Municipal de Transportes informou que 234 taxistas saíram do programa, todos motoristas de frota. Ao deixarem as empresas, eles são desligados do Amigão. Hoje, há 2.569 taxistas credenciados. No total, são 80 pontos.

COMO FUNCIONA
Horário
O desconto é oferecido por taxistas credenciados das 20h às 6h às sextas-feiras, sábados e vésperas de feriados.
Identificação
Os táxis cadastrados no programa circulam com o luminoso
verde e o símbolo do Amigão no para-brisa e no vidro traseiro.
Tarifa
Deve ser cobrado o valor da bandeira 1: R$ 2,10 por quilômetro rodado. Nos táxis comuns vale a tarifa da bandeira 2, de R$ 2,73 por quilômetro rodado.

Retorno financeiro não se concretizou, dizem taxistas
Para taxistas, a adesão não deu o retorno financeiro esperado pois não há demanda suficiente para compensar o desconto.
"Não há divulgação. A Prefeitura criou um programa que ninguém conhece", observa o taxista Amauri Félix de Araújo, de 45 anos. "Financeiramente, não está mais valendo a pena", diz Sérgio Ricardo Custódio, de 47 anos.
Os motoristas dizem que a Prefeitura não cumpriu promessas como a prioridade em sorteio de alvarás. A Secretaria Municipal de Transportes (SMT) afirmou que prometeu o sorteio de vagas em 62 pontos, e não de alvarás.
"O taxista só vai dar o desconto se tiver vantagem. E o cliente não cobra porque não acredita no programa", diz Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo. 

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